quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Meditação Beija-Flor



Nesta última terça, resolvemos fazer a meditação cada um a partir de sua casa. Telma estava adoentada, e assim ficaria mais prático para todos fazermos a conexão virtual. Desde a última terça, houve uma mudança de ritmo, já que Tona, Telma e eu fomos para o mangue em busca de flores do mangue vermelho, e nos deparamos com um novo planeta, um lugar de trocas intensas e de germinação.

Um pouco perdida com estas mudanças de foco, fui para o terraço meditar, esperando ou prevendo um mergulho em águas diferentes daquelas em que costumo entrar diariamente em minha meditação pessoal. Sinto uma diferença de intensidade e direcionamento nessas duas meditações. Ultimamente, na que faço diariamente, têm vindo "recados" bem precisos acerca de minha vida diária, ou de cuidados que preciso tomar, ou dicas de que direção tomar, ou ressurgem coisas antigas para serem cuidadas e curadas... Tenho tentado seguir essas orientações na medida do possível, e tenho me deparado com uma sensação de abertura de caminhos, a vivência das "possibilidades" quânticas.
Ao entrar na meditação, tentei visualizar o nosso grupo e surgiu a imagem de todos no terraço da casa de Fábio, no Sítio União. Claramente estavam Tona, Fátima e Brenda.

A sensação de mergulho foi muito intensa, senti que venho curando coisas muito importantes, e que de certa forma minha energia está mais "aberta", minha paisagem interna está se transformando porque houve faxinas gerais, e teias de aranha e manchas removidas deram espaço para um conforto e uma claridade maiores. Essa faxina interna ressoa com a que vários de nós vem fazendo em suas casas, com o período do ano que é propício a "descartes" e doações.

Então foi fácil e profundo, apesar de sentir muita coisa a ser trabalhada, era uma energia que propulsionava para frente e para dentro, não mais apenas limpeza mais também começar a colorir a paisagem com coisas interessantes e boas.

Foi então que senti o Beija-Flor, que narrei no Grupo. Ele voava a alguns palmos de minha cabeça. Uma aluna bióloga que gosta muito de flores disse que os animais sentem nossos anjos guardiões, e se aproximam deles. Achei mesmo que o Beija-Flor trocava uma prosa com meu anjo, já que ele insistia em permanecer a alguns palmos de minha cabeça. Vibrava em sintonia com ele. O que ocorre é que agora estou cada vez mais em busca dessa sintonia, o que pode, como disse certa vez Telma, se tornar uma espécie de vício. O maior obstáculo é o medo, de quê exatamente não sei (de ficar louca, fui assegurada de que não precisava pois já era), talvez, provavelmente, de não ter habilidade de cuidar do lado material no sentido "clássico" da coisa.

Assim, continuo seguindo as orientações, os "recados", que quando meditamos em grupo adquirem dimensões mais amplas.




quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Planeta Mangue


Não imaginava que carangueijos pudessem ser seres tão acolhedores e comunicativos. Quando Telma, Tona e eu chegamos na margem do mangue na qual poderiamos encontrar as flores que se buscava para criar o floral, fui logo recebida por um deles que veio sem medo até mim, e com um gesto de sua pata maior fez uma espécie de aceno, nos recepcionando em seu território... A partir daí senti que haviamos adentrado outro planeta.

Primeiro, fomos a procura das flores, o que já me pareceu algo fantástico, pois jamais havia pensado que houvesse flores no mangue. Logo nos deparamos com algumas delas, mas já secas, naquele ponto em que sua base está prestes a cair por terra e dar origem a novas plantas. (Neste ponto, precisamos da ajuda de Samanta para entender o ciclo da flor).

Constatamos que talvez não tivessemos chegado na estação propícia para encontrar um número de flores suficientes, e Telma recebeu a mensagem, ou "recado", como diz Tona, de que haviamos chegado tarde. Então resolvemos simplesmente sentar sobre as raízes incrivelmente fortes da vegetação, tentando meditar, ou nos sintonizar com alguma orientação que pudesse nos esclarecer sobre o processo de criação do floral. Olhei em volta tentando sentir o que me dizia o mangue, que eu adentrava pela primeira vez. Pareceu-me estar dentro de entranhas, como Jonas na baleia, ou Gepetto. Quanto a este último, pai de Pinocchio, que fora em busca de seu filho e terminou sendo engolido pela grande baleia, talvez nos remeta um pouco ao que depois o mangue nos falou, e com especial clareza a Telma, sobre vida, morte, criação, e aborto. Gepetto na baleia estava em meio a uma crise em relação a sua criação, Pinocchio, que lhe escapava e se rebelava, mas que foi ao seu encontro, se reconciliando com ele na baleia. Foi isso que senti ali, um entrecruzamento das gerações, dos estágios de vida, uma UTI reparatória e germinatória.

Telma sentiu processos de curas profundas relacionadas ao aborto, e depois vimos na assinatura do ambiente este sinal: muitas plantas eram lançadas à terra, mas poucas realmente brotavam, ou "pegavam". Quando isto acontece, elas surgem com vigor, com um verde vibrante.

De repente, moscas começaram a morder a perna de Tona, e ele percebeu o recado para nos movimentarmos, sairmos em busca de mais coisas. Fomos adentrando o mangue, por uma senda criada por mão humana, e fomos chegando a uma clareira. A sensação era de estar numa floresta, daquelas encantadas. As raízes retorcidas das árvores acrescentavam ao ambiente uma sensação de magia psicodélica. Neste momento, Telma percebeu: haveriamos de criar um floral ambiental, da água do mangue. A água falava do processo criativo que buscávamos, e seria um primeiro passo para irmos conhecendo toda a mensagem que o mangue queria nos passar. Então colocamos na vasilha redonda de Telma água mineral e buscamos um ponto onde o sol pudesse inscidir sem interferência alguma sobre a água. Ficariamos ali por uma hora, aguardando o processo alquímico se realizar. E foi aí que o processo mágico aconteceu, Tona começou a perceber luzes psicodélicas verdes e azuis brincando dentro da água, e luz dourada se espargia em volta. De pé diante da vasilha, ele se maravilhava como uma criança e nos narrava tudo o que via, boquiaberto. Telma sentada na raiz forte de uma árvore acompanhava o processo em silêncio, orientando-nos aqui e ali. Tona dirigiu a luz para seu coração e sistema circulatório, e nós juntamos o segundo chacra com o timo, fazendo a conexão das energias criativas. Senti-me como um jarro novo (acho que essa é a frase de uma canção de catecismo). Barro e luz, foi a síntese. Estava renovando meu ateliê de criação, que, ficava claro estava sendo colocado em reparo e remodelado para poder dar novos frutos. Fracassos e abortos estavam sendo absorvidos pelo mangue, baleia acolhedora das obscurezas da alma (depois do obscuro, que é como um amigo inglês chamava o bar dos anos 80).

Olhando para a água na vasilha, via no seu fundo a luz como que depositada no seu interior, parecia um pequeno sol, um pequeno planeta brincante que entrara ali e se divertia colorindo a água. Tona me mostrou a variação de cores da luz. Era encantador como ela passava do amarelo, para o verde, depois para o azul. Pulsava de uma vida que parecia vir de outro planeta.

Ficamos um pouco mais ali, sentei na raiz de uma árvore, e observei os carangueijos. Eles se aproximaram da vasilha, e fervilhavam em torno dela. Havia de várias cores e tamanhos, e admiramos a sua convivência pacífica, e o aceno de suas patas dianteiras. Um deles era marrom como a lama mais brilhava como um besouro dourado.

Quando olhamos o relógio, fazia exatamente uma hora que estávamos ali. Então, coamos a água com um pano de fralda, e fomos andando em direção ao bar restaurante do outro lado da margem. No caminho, Telma "colheu" a água do mangue, límpida naquele local, e que neste momento corria do mangue para o mar. Então, suspiramos fundo: havia se concluído o processo de criação do floral.

Finalizamos a excursão com um banho nas águas do mangue, que até agora reverbera em meu corpo e alma. Não há palavras para agradecer tudo o que vivemos.

PS: Em alguns momentos nos conectamos com o Sítio União, e de lá sentimos chegar apoio e aconchego, numa conexão horizontal.


terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Ecos do Universo


Tudo começou com vento e chuva, o vento no peixe japonês de papel da varanda de Fábio, depois chuva durante a meditação, cigarras, pássaros, e a vegetação em torno da varanda de Fábio e de todo o Sítio União existindo numa outra sintonia.

Ecoamos novamente as vogais, e Brenda visualizou a onda sonora que formavam, como aquelas que certos aparelhos registram. Pareceu-me que vibravam como um canto cósmico, e ele foi ouvido e tivemos respostas. Cada um a sua, mas a sensação de infinita grandeza, de enormes e ternas presenças foi compartilhada por todos nós. Alguns receberam recados específicos, como Telma, que percebeu orientações para arrumar seu apartamento. Rosinha conseguiu captar uma sensação de agradecimento profundo por experiências dispares; Ivete teve dificuldade de se intregar a uma beleza que lhe pareceu quase insuportável. Olhando ao longe, contemplei os ecos de nosso canto e me dei conta de que às vezes, na infância, é assim, agente olha ao longe e vê mais coisas do que apenas a paisagem, agente percebe promessas e presenças muito grandes. Fátima sentiu uma alegria infantil e vontade de ir dançar na chuva. Márcia visualizou uma energia laranja nos aquecendo a todos. Daniel percebeu que precisa cuidar de sua voz, instrumento de seu ofício de ator. De repente, enquanto ele falava, comecei a ter por meu corpo uma ternura inusitada, como se eu o contemplasse de fora, e percebesse sua fragilidade, ao mesmo tempo que soube o quanto nossos corpos são cuidados por nossos Eu Superiores que zelam por eles com cuidados maternais.

No silêncio no qual nos mantivemos por bom tempo, houve um espaço enorme de muita ternura e reverberação dos nossos seres.

Intrigou-me e me enterneceu perceber que as vogais e o cântico final (formado pelas vogais u e i) reverberassem e despertassem uma espécie de memória "celular" cósmica que revela-nos algo acerca de nós e do mundo que, depois que volta o silêncio, torna a se esconder na paisagem, esperando que a despertemos novamente, como se fosse um doce gigante adormecido que só vem ao nosso encontro brincar conosco quando o chamamos. Um gênio da lâmpada que faz o mundo em torno mais belo, inocente, e acolhe nossa criança interior com um delicadeza de mãe. Velando no centro do nosso círculo Santo Expedito e Nossa Senhora...