terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Caleidoscópio


Embalada pela gripe, assisti ao filme "O Código da Vinci", e fui dormir com a cabeça cheia de símbolos e encaixes... A realidade como um grande caleidoscópio, tudo se toca, e tudo é transformado por esse contato...


Que peças estamos escolhendo para colocar no nosso caleidoscópio hoje, o que optamos por focalizar e transformar?


Foi um pouco assim que vivenciei a meditação de hoje, minha mente o tempo todo girando em torno do que eu poderia vir a escrever aqui... Nada parecia fazer realmente sentido, até que percebi que eu estava no nível da mente, ela chacoalhava com peças de pedaços de vida...


Lembrei-me da academia que freqüento, e da brincadeira de cricket que fizeram no intervalo das máquinas, me remetendo a férias que passei na França onde brincamos de cricket... Sem querer, marquei pontos durante o jogo na academia, pois havia na minha memória esta experiência... Acharam que eu era craque, mas não, eu estava apenas reproduzindo uma experiência, enquanto dificilmente ali alguém a tivera (quase não há cricket no Brasil). Esses dois momentos se tocaram dentro de mim encaixando pedaços de vida distantes de cerca de 30 anos... As coisas se ajustaram de uma maneira mágica, estranha, entusiamante... Eu podia ter novamente 15 anos no impulso de vida, e meu olhar seria transformado com esse vôo no tempo... Mas, e aí...? Nada, a não ser a constatação de que a vida se renova, experiências retornam e já podemos vê-las com olhos amadurecidos, a angústia ou a expectativa já estão amaciadas por quem, como nós, se conecta aos anjos...


E se esses ciclos acontecem na nossa vida pessoal, porque não na vida de um grupo, ciclos se fechando e se renovando? Foi isso que constatei quando finalmente consegui formar minha árvore, visualizar a árvore do grupo, sobre a qual o sorriso terno e circunspecto de Samanta pairava, com uma ligeira ironia bem humorada...


Estariamos fechando um ciclo? Que novas coisas virão? Peças chacoalham no nível mental, mas num nível mais profundo o sentido de tudo isso parece transpor as barreiras do que estabelecemos como metas ou razões para a existência do grupo... Tentamos planejar, ou mesmo desplanejar o planejamento, deixando as coisas virem por si só em nossas meditações, e neste deixar vir vai se delineando em filigrana um propósito mais profundo, que nos ultrapassa muitas vezes mas que nos reconecta com as coisas belas e simples da vida, como amizade, natureza, tranquilidade, transformação a partir do coração...


Que bom, enquanto o ano vai chegando ao fim, poder constatar que estamos caminhando, e que temos cada vez mais capacidade de perceber a presença dos anjos nas pequenas e grandes coisas de nossas vidas... Um 2009 visualizado com muita Paz e Amor nos nossos caleidoscópios!




terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Itinerância

Hoje fomos meditar junto ao Baobá da Beira Rio... Participei de seu plantio junto com o Instituto Capibaribe, poucos anos atrás... Este foi um Baobá itinerante, pois sua muda veio da África, depois passou pela França, e finalmente aportou aqui...

Não sei se foi por isso, mas quando nos acomodamos, abrigados por sombreiros, sentados no banco da praça, me vieram imagens de itinerância, de praças em que estive em Recife, Argel, Paris, Cardiff e Lahore, e a conexão que existe entre esses espaços de verde e de vento, de pausa e de alegria, nos diversos lugares do mundo.

Brenda conduziu o plantio de nossas árvores, e a do grupo me apareceu alegremente cercada por nós todos, formando uma ciranda ao seu redor, girando como um só corpo, e tinhamos a alma verde encantada...

Fizemos uma pausa para a cura de pessoas queridas, e logo em seguida me veio a imagem de Telma com uma vareta de procurar água em desertos. Ela parecia querer nos dizer que somos esses buscadores, buscamos este líquido precioso, escondido em nossas almas, para que ele jorre e se torne parte da paisagem, e a transforme... E também mostrar nossa condição itinerante... Este pensamento fez uma ponte com o barulho dos carros que passavam na avenida, traçando um itinerário sonoro. A meditação foi sendo ritmada pelo som dos motores que se transformaram na própria meditação, despertando em mim uma sensação de possíveis e gostosas viagens e passeios... Mesmo com a circulação dos carros, momentos de silêncio aconteceram, pausas em que de repente o canto dos pássaros nos remetia à natureza de maneira plena, com o sol e o vento presentes e filtrados pelas árvores...

Esta foi uma estação meditativa, não mergulhamos na natureza mas nos sentimos transeuntes ligados a ela e em busca de tesouros preciosos, com vontade de buscá-los em diversas partes de nossa cidade e além dela. Valeu!

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Sinergia


Às vezes, o vazio pode ser fértil, como aquele que precede um nascimento. Foi o que sentimos hoje, com a ausência de Telma. Sem ela para conduzir a meditação, pareciamos crianças que se encontravam pela primeira vez no pátio da escola, sondando para saber quais as brincadeiras em comum que poderíamos compartilhar. Ao mesmo tempo, pudemos nos dar conta do ponto em que estamos, e o que precisamos fazer para podermos nos sintonizar melhor...

Acolhidos por Fábio e Fátima no Sítio União, nos rencontramos como depois de férias, reconhecendo a cada um e ao mesmo tempo cientes de que haviamos mudado...

Na varanda da casa de Fátima, rodeados de árvores, iniciamos nossa meditação... O vento soprava delicadamente fazendo tilintar o mensageiro dos ventos... Grilos ritmavam o tempo, cachorros confabulavam, o canto dos pássaros coloriam a atmosfera... Formamos nossa árvore, alguns a árvore do grupo, e mergulhamos no silêncio... Aproveitei o som dos grilos para subir até a Anternet, e lá fiquei flutuando como numa estação espacial. Encontrei meus tios para uma sessão de cura (ele está com câncer). Sorriam-me como se estivessemos num parque de diversão. Depois, vi que todos do grupo voavamos como Super-Homem, formando uma roda cujo centro eram nossas mãos dadas. Voávamos para brincar e para experimentar nossa qualidade de seres cósmicos...

Saindo do silêncio meditativo, nos demos conta de que o vento havia regido nosso recolhimento, e que, como fazem os tibetanos, podiamos tentar traduzir as qualidades divinas que ele transportara. Fomos ver a muda do Baobá, muito lindinha, que Fátima rega quase todos os dias... Muitas folhinhas brotando, e o caule começa a ter na base um ligeiro colorido cinza... Ficamos encantados com ele.

Foi só no café da manhã, em casa de Fábio, que começamos a falar do nosso silêncio e timidez em compartilhar nossas paisagens internas durante a meditação... E enquanto falávamos, cada um um pouco do que viramos e sentiramos, nos demos conta de que a tônica de todos tinha sido a percepção da conexão e da coesão do grupo, o sentimento de que nossas energias se fundem, como o fazem os troncos dos Baobás. Alguns outros elementos em comum apareceram, como a energia da criança através de Fátima e Ivete. A primeira entrou no tronco de um Baobá e foi brincar no seu interior, a segunda viu Telma, recheada de energia infantil, saindo de um dos Baobazinhos que formavam um círculo... Estar dentro do Baobá... Ele pareceu estar sendo uma matriz para nosso renascimento.

Mais tarde, quando fiz um intervalo para me exercitar, observei na academia e na praça por onde passei, detalhes que me chamaram atenção para o fato de que, talvez agora, nós não estejamos mais desconectados, e que funcionamos como um bando de pássaros que andam em sincronia... Acompanhamos o vôo de cada um, enquanto voamos o nosso próprio, que é um pouco o do outro... Há um entrelaçamento que funde o individual numa sinergia, gestada pela matriz do nosso Baobázinho. Mesmo ainda tão pequeno, ele nos dá segurança, assim como a ausência de Telma conectada em sinergia nos proporciona crescimento.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Cartas da alma


Primeiro, uma certa interrogação por causa da chuva... Será que daria para ir à Jaqueira? A criança dentro de mim não hesitou, queria ver e ouvir os passarinhos, as árvores, o colorido luminoso da vegetação. Mesmo que não vá ninguém, não faz mal, pensei, desejando muito não estar só, e sabendo que não o estaria.

Tomei um rápido café e escolhi um entre os quatro guarda-chuvas disponíveis. Peguei um táxi e fui para a Jaqueira. Mais adiante, na rua quase deserta, uma senhora de tênis também rumava para o parque. Seu guarda-chuva era igual ao meu. Primeira pedrinha do pequeno polegar, pensei.

Eram um pouco mais de 6 horas. Resolvi achar um lugar seco para sentar. Quando percebi que raízes aéreas de uma árvore se ofereciam, completamente secas, Brenda e Tona chegam, este último com sacos plásticos, e sentamos ilusoriamente protegidos do molhado num banco.

Abrigados sob nossos guarda-chuvas das poucas gotas que caiam, sentimos quase todo o grupo. Percebi que Telma se acomodava ao nosso lado, sem saquinho para sentar. Senti quando seu anjo aconchegava nosso grupo. Não sei se, assim como nós, ela saiu com os fundilhos das calças molhados.

Então, mergulhamos num mundo de luz aconchegante, gotas caindo sobre os guarda-chuvas, abertos para além desse abrigo, (guarda-chuvas de Mary Poppins), envolvidos pelos cantos dos pássaros, pelo silêncio molhado, pelo sol que despontava por entre os galhos das árvores. Éramos pequenos pirilampos salvaguardando a luz, apesar da chuva, brilhando com ela.

Agradecemos nossos anjos, e na padaria conversamos sobre várias coisas que nos remetiam sempre a cartas... Cartas e e-mails, cartas que não recebemos mais e que desejariamos receber, cartas num livro que Brenda está lendo, cartas que Tona escreveu para a filha.

Fiquei na espectativa de receber alguma mensagem, ou carta...

E é então que ao chegar, e sentando para aqui escrever, recebemos a "carta" de Telma de Blumenau que segue...

Mariana


Oi Gente! Hoje 9 de dezembro, antes de meditar conectada com vcs, resolvi me conectar com os passarinhos, pedindo para eles me conduzirem até vcs. Logo veio uma imagem de um carrocel (daqueles de festa infantil) e nós crianças, brincando, sorrindo e se deixando embalar pelos movimentos vertical e horizontal...do lindo carrocel... Nos divertíamos tanto que a velocidade do carrocel foi aumentando, aumentando até nos transformarmos em estrelinhas de luz. Estas estrelinhas voavam para bem longe e assim íamos formar outros carrocéis em outros lugares. A sensação era muito boa!!! Só alegria e compartilhamento...Será que é assim que precisamos aprender a atuar?? Cantar, cantar... girar, girar.. nos movimentando e cantando em outras rodas, em novos lugares que precisam de luz, canto e encanto de amor em movimento...Muito obrigada por mais uma conexão de puro AmorENCANTO através de nossos corajosos corações. Vou ficando por aqui, com este lindo presente que recebí hoje... Brincadeira, luz em movimento, risos, muitos risos gerando muitas e muitas estrelinhas... Estrelinhas de luz voando pelo céu e pousando em novos lugares e ao pousar, brincadeiras novamente, novas estrelinhas se agregando para brincar e começar a aprender a girar e girar....até voar para novos céus...
Telma Buarque de Blumenau.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Conexão dos pássaros

Os pássaros estiveram conosco desde o princípio. Primeiro, fomos até o Baobá da Ponte d’Uchoa. É uma visão impressionante de se ter logo de manhã cedo, uma copa que se doa e que jorra luz, e um tronco que nos acolhe como uma grande mãe.

As flores em todas as fases, umas secas, outras bem abertas, algumas fechadas em uma linda bola verde. Foi um Natal...
Neste momento chegou um periquito verde, daquele verdinho que parece sair de um livro de colorir pela precisão do tom...

Para ficar junto à nossa querida árvore, verificamos que precisamos mesmo fazer alguma coisa. Não conseguimos meditar lá, não tínhamos como sentar, e o mau cheiro não nos deixou ficar. Então, rumamos para a Jaqueira. Buscamos um lugar para sentar, não ficou longe do Baobá pequeno, e logo fomos rodeados pelos pássaros, pelos canários, periquitos, lavadeiras, e outros, que teceram em torno de nós uma atmosfera enlevada com seu canto. Não foi difícil, protegidos pelo som do canto dos passarinhos, entrar em meditação. E de repente, sentimos a suspensão do tempo e todos os barulhos sumiram como que por encanto.

Os pássaros, cada um com seu trinado, pareciam ecoar sua conexão com uma dimensão mais sutil. Neste momento, passou uma dupla de amigos rindo às gargalhadas, e sem querer comparei o som dos pássaros à risada de um deles. O tom em que cada um ressoava foi tão diverso que me lembrei de uma das aulas de Lori Wilson, em que ela explica que somos uma espécie desconectada, não temos nem antenas, nem cauda, nada que revele nossa ligação com outras dimensões, mas que mesmo assim sobrevivemos... E foi esta sensação que tive ao ver as pessoas andando em círculo pela pista de cooper, apesar da desconexão, sobrevivemos. A movimentação dos pássaros, seu vôo em bando, sua aterrissagem sincronizada, em dupla ou em trinca, tudo nos fazia sentir um entendimento mais profundo entre eles... Ao contemplar as pessoas andando na pista, ficou evidente aos nossos corações a desconexão de nossa espécie, e a sua vulnerabilidade... Ao mesmo tempo a nossa possibilidade de expansão através das ondas meditativas, do silêncio, do nosso espírito.

Foi bom poder sentir, como não o fazia há muito tempo, a natureza, a cidade, as possibilidades de sua transformação e de curtir o verde como uma ressonância de nossa alma, os pássaros como guardiões do encantamento.
Valeu!

Mariana